domingo, 19 de março de 2017

Som que Bate: Astrud Gilberto - Água de Beber




Música Quântica...a cura pelo Som!!




Intervenção Urbana: Aprendizado nas Ruas


‭Em busca de conhecimento e por uma questão de manter minha análise sempre atual e aguçada, algumas vezes utilizo da prática analítica em espaços urbanos, além de gostar muito do espaço urbano, uma análise no conceito de intervenção urbana é a verdadeira Psicologia.

‏Uma análise é algo fácil de acontecer, o simples fato de dizer que sou Psicólogo, serve de estímulo para algumas pessoas “iniciarem” uma sessão, nada contra, muito pelo contrário, porém não é sempre que procuro escutar de deixar rolar um processo de análise.

‏Contudo, hoje, conheci uma menina no Parque Ibirapuera que me deixou bastante curioso..
‏saí de casa pra dar um rolê de skate (long) no ibira, dei uma volta no parque, escutando minha playlist (em construção), parei na marquise, em fim.

‏Na segunda volta, parei perto do museu da cultura negra, pois ali tinha uma descidinha bem pequena, mas porém seca e dava pra treinar uns slides ali. Fiquei treinando uma manobra chamada slide, pois tinha uns quatro meses que não andava de skate e estava meio “preso”  e com medo de arriscar mais a manobra e cair.

‏O parque estava um tanto vazio, sábado a noite, já passavam das dez e tinha dado uma chuva fina e daquelas que esfriam o clima, resultado do parque vazio, em fim, andando ali, vez ou outra passava alguém (grupos, casais, duplas) praticando corrida, pedalando, ou de skate, patins, caminhando.

‏Até veio uma menina, sozinha e em direção a uma área mais deserta ainda, andando devagar e olhando em minha direção, quando estava próxima, parou mexeu no celular, de pé. Continuei meu ritual, descendo e praticando a manobra, passei perto dela e ela olhou e sorriu, sorri também e continuei, saquei que ela queria algo a mais, continuei ali andando de skate.

‏Ela percebeu que eu não abordei e continuou a caminhada, um tanto mal intencionada, andou alguns metros e sentou em um banco próximo, continuei andando. De vez enquanto dava uma olhada pra ela, meio curioso, ela era um pouco gordinha, não parecia ser bonita, carinha de nova e doida pra dar, confesso que até pensei..mas, sem camisinha, também não instigava.

‏Após algum tempo sentada, ela voltou, passou perto de mim, olhando e foi em direção a uma ponte que atravessa o lago e sumiu, pegando um caminho muito suspeito. Continuei ali um tempo treinando e não a vi, até que começou  chover e voltei pra marquise, já de via ser mais de onze horas.

‏Fiquei na marquise andando e esperando a chuva passar para ir embora, fui pro ibira de skate e voltar debaixo de chuva não iria rolar, mesmo sendo Moema. Enquanto andava na marquise, eis que surge a mina novamente, parou do meu lado, estava na entrada da marquise (portão 2) preparando pra descer e vi ela subindo.

‏A chuva ainda rolava e ela ali parada do meu lado, dessa  vez falei da chuva com ela, e ela respondeu e continuou o assunto, perguntou se era eu que estava andando de skate lá “embaixo", respondi que sim e a gente ficou conversando.

‏Indaguei sobre ela estar ali sozinha naquela hora, devia ser uma onze e meia, tinha um movimento de uma peça que rolou no anfiteatro, mas perguntei se ela não tinha medo de ficar andando no parque aquela hora sozinha, e ela disse que não.

‏Falou que havia ido pra ler um livro para um trabalho e que gosta do parque, mas que não foi muitas vezes, porém da última foi embora três e meia da manhã. Fiquei de cara, “essa mi‏na..ela é loca..essa mina é maluca”, não fiz uma intervenção urbana analítica, mas fiquei pensando no que ela falou, como quando ela ficou até as três da manhã deitada perto do lago, vendo as estrelas, pensando.

‏Ela revelou que havia chorado um pouco, mas fiquei pensando em como essa menina, dezenove anos, não poderia sentir medo de ficar ali sozinha, talvez ela estivesse buscando ser uma presa fácil, mas estaria sujeita à diversas situações. Ignorar o medo pela busca de algum prazer ou satisfação pessoal, e ela parecia fazer com tanta naturalidade.

‏Isso me fez questionar, sobre os meus medos, e os riscos que tenho corrido em função do meu medo na busca pelos meus sonhos, objetivos e ideais, medos que parecem ser tão insignificantes em relação as consequências, algo mais ligado a uma frustração pessoal, diferente das consequências que aquela menina poderia sofrer.

‏Sei que o medo é um mecanismo de defesa, é o que me manteve vivo em alguns momentos, mas o medo quando não é superado nos impede de viver a vida com intensidade, autenticidade. Superar nossos medos é algo que nos faz sentir vivos, seja qual for sua busca pessoal.